Psicologia do Densenvolvimento II : Sobre as escolhas e o cansaço.
Eu queria ter feito intercâmbio. No segundo colegial, em 2000, eu até vi de ir, mas meu medo librianamente usual me impediu de levar a vontade adiante. E também ninguém tinha exatamente dinheiro na minha casa pra me mandar pra passar um ano na Inglaterra: era pra lá que eu ia. E teria sido muito legal.
Seis anos se passaram. O dinheiro finalmente veio, e com ele algumas dúvidas, principalmente 'O QUE FAZER COM ELE?????'. Não é muito, então o que escolher, estará escolhido. Minha irmã vai morar na europa. Eu, pensando no meu sonho de estudar no exterior, na minha faculdade e no meu futuro profissional e pessoal, comprei um apartamento.
(Mas não foi um simples apartamento. Foi o apartamento dos meus sonhos. Aquele lugar que, depois de muito procurar, eu entrei e o ácaro que morava lá dentro olhou pra mim e disse: EU PASSEI A VIDA ESPERANDO ALGUÉM COMO VOCÊ!)
Realizei um sonho. Não o sonho do passado, porque como eu disse antes, os sonhos, os grandes projetos se realizam, independente de você. Realizei o sonho da casa própria, Seo Sílvio. Legal, irado. Agora eu tenho um canto só meu, meu mesmo, no meu nome, com a minha cara, do meu jeito.
E então começam os poréns. Reforma, colocação de piso, pintura,. Liga a luz, liga o gás, muda o nome do titular dessas contas, e foram apenas 5 horas pendurada no telefone com a Eletropaulo e com a Comgás pra conseguir fazer isso. Aí tem que escolher se eu vou continuar com a Telefônica ou pegar um Vésper, se eu vou assinar a TVA e O aJato por R$99,00. Tem que ver o cara pra instalar o vidro da área de serviço, a mudança, providenciar alguém pra desenhar os armários da cozinha e do quarto, arrumar um marcineiro pra fazê-los. Achar uma mesa pra sala, um espelho pro banheiro, fazer a decoração da varanda. Comprar uma máquina de lavar, uma tábua de passar roupa e um ferro. Calcular quanto eu vou gastar em compras e contas. E por fim, descobrir que não vai me sobrar um tostão furado pra comprar um chicrete na padoca da esquina.
Crescer cansa. Quando a gente é bebê e adolescente, aumenta o nível de hormônio de crescimento e a gente sente mais sono. Porque crescer exige descanso. E amadurecer também. O interessante é que não importa o quanto eu esteja cansada, eu não consigo dormir. Não consigo parar de pensar que eu ainda não coloquei o piso, não fiz a pintura, não fiz a mudaça, não liguei o telefone, nem a internet. Ainda não sei como será a sala e o quarto. Não consegui me ver morando sozinha. E quando eu finalmente durmo, eu sonho com o jingle do Speedy.
E o que é pior: cortar o cordão umbilical. Dizem que o desmame é mais difícil pra mãe do que pro bebê. Até mesmo porque, o bebê encontra um objeto transicional que serve pra que ele não sinta tanto a falta da mãe e se sinta provedor de carinho. Eu descobri que devia ter guardado uma joca, meu objeto transicional. Sim, porque agora dói na mãe e dói no bebê também. Crescer dói. Gera interesse, mas cansa. E é impossível dormir.