sexta-feira, fevereiro 25, 2005

Em meio a uma viagem ao meu passado teatral, resolvi fazer uma metáfora da minha vida em 'A casa de Bernarda Alba', de Federico García Lorca.

Em primeiro lugar, eu, Bernarda. Responsável e máscara de tudo o que anda destoando da vida normal. Ela é viúva de seu segundo marido, aquele que lhe passava segurança e tranquilidade para seguir em frente. Ele acabou de morrer e ela declara 8 anos de luto para suas cinco filhas: Angústias, Madalena, Amélia, Martírio e Adela.
Angústias, a mais velha. 40 anos de idade, finalmente tem um noivo. O rapaz mais cobiçado da cidade. Ele a ama... e muito mais o dote que ganhará se casando com ela. Ela é velha, reprimida e pensa que será feliz.
Madalena, o homem da casa. Muito ligada à figura masculina, ela não se prende às futilidades femininas. Sofre, agora que o pai morreu e ela tem que, junto com Amélia, bordar seus enxovais que nunca serão utilizados. Seu maior sonho é se juntar aos homens na colheita.
Amélia, a inexpressiva. Ela está sempre lá, ela vê tudo, ela não fala, ela ouve. Todas as outras irmãs estão preocupadas demais com suas próprias frustrações para prestar atenção nela. E ela, eu repito, vê tudo.
Martírio, a invejosa. Tem inveja de todas as outras, em especial de Angústias, por estar noiva. Tudo o que ela deseja é se livrar dessa vida em inércia, custe o que custar. Em sua cabeça, sua felicidade está muito distante.
Adela, a livre. Ela é a mais jovem e acredita em sua juventude. Ela tem um caso com o noivo de Angústias, acredita que ele a levará embora. A única honesta das irmãs. Ela sabe se deixar apaixonar, se deixar envolver. A única que se deu o direito de ter um homem e se deixou enlouquecer por ele. Tanta vontade de ser livre em vida, e acabou encontrando sua liberdade na morte.

O que isso tem a ver com a minha vida? Ora, metáforas são metáforas. Elas não têm que ser boas ou claras (veja o presidente...). Elas tem que significar algo no momento em que a analogia veio, mesmo que 5 segundos depois já nem faça tanto sentido assim!
De qualquer forma, se alguem se interessar, procurem ler Lorca. Eu sempre digo e torno a dizer: Se Lorca fosse vivo e quisesse escrever uma peça moderna, eu seria personagem dela.