A Fada e o Morro
Ontem foi dia de terapia. Pra quem não sabe, por motivos financeiros, arrumei uma psicóloga na Freguesia do Ó (relação custo-benefício
imbatível).
Bom, eu tinha dormido na casa do namo, porque ele está doente. Ele mora na Vila Mariana. Eu tinha que ir até minha casa no Sumaré pegar o cheque para pagar a psicóloga, pegar um ônibus até a Lapa, de lá pra Freguesia, como de costume.
Teoricamente, dava tempo. Só que ficamos assistindo a CPI do Mensalão (o melhor reality show da atualidade) e perdi a noção do tempo. Minha terapia é às 15:30.
Saí correndo às 14:00 da Vila Mariana, peguei o metrô da Ana Rosa até o Vila Madalena, corri 3 quarteirões até minha casa, peguei o cheque, troquei de roupa (sem tomar banho...), saí correndo até o ponto de ônibus mais próximo na Heitor Penteado para pegar o ônibus Lapa. O busão chegou às 15:10. Eu já estava atrasadíssima, mas firmeza.
Até a Lapa dá uns 15 minutos. OK, ponto final do Lapa, andei até a Guaicurus para pegar QUALQUER ônibus que passe na Av. Itaberaba, Freguesia do Ó, onde fica minha psicóloga. Todos os ônibus que passam na Guaicurus que dizem que passam na Itaberaba servem. Menos um: O Brasilândia 8542. Tem também o Brasilândia 975A, mas esse vai até a Itaberaba. Ambos são verdes.
Já eram 15:30, mais ou menos, eu estava morrendo de pressa, porque até a Itaberaba dá um pouco menos de 10 minutos. Entrei no Brasilândia, nem olhei número nem nada, na pressa...
"Ufa! Vai dar tempo!" Então eu notei que o ônibus começou a fazer um caminho diferente do que eu estava acostumada. Na Av. Inajar de Souza, onde era pra ele ter pego um retorno para a Rua Javoraú, ele foi reto... reto... reto... e não parava mais.
"Ele tem que pegar a Itaberaba, tava escrito Itaberaba, ele vai entrar em algum momento na Itaberaba..." E o busão ia... virava aqui, virava lá... Depois de uns 20 minutos, ele entrou na Itaberaba.
"BOA!! Eu espero ele chegar perto do consultório e desço!" Durante esse pensamento (mais ou menos 0,01s) ele saiu da Itaberaba e virou em outra rua.
Então começou o pesadelo. O ônibus começou a entrar no meio de um lugar muito feio. O comércio começou a diminuir, restando apenas uma meia dúzia de botecos escuros. Rua sobe, rua desce, dava pra ver São Paulo inteira. E aquela gente bem encarada, de boné de tricot...
Eu estava no meio do morro, na Vila Brasilândia, às 16:30, sem celular, sem o telefone da psicóloga, sem cartão telefônico, de batinha rosa, calça jeans, salto e cara de desespero.Foi no meio do pânico que eu vi, vindo na direção contrária à minha o ônibus Barra Funda, que EU SEI que passa na Itaberaba. Desci no próximo ponto, atravessei a rua, (quase de terra) e esperei mais uns 20 minutos pelo próximo e entrei. Salva, mas não muito sã.
Cheguei finalmente à Itaberaba, às 17:00. Minha psicóloga estava atendendo outra pessoa (ÓBVIO). Cheguei na secretária pra entregar o cheque e aproveitei pra desabafar o trauma: "Nossa, você não sabe, eu peguei o ônibus errado, fui parar no meio do morro na Vila Brasilândia..."
E ela: "Ah, o pessoal lá é gente boa, eu moro lá." Acabando assim com o meu desabafo.
Sem ter mais o que dizer, fui embora.